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Um pedaço de Lua!

Foto do escritor: CatarinaCatarina


A precisar de tratar de tramites de viajantes, decidimos ir para um parque de campismo. Fomos surpreendidos, ao chegar, com a presença do Martin e da Christen, os nossos amigos alemães da Africa-do-sul! Simpáticos como sempre ainda antes de termos tido tempo de conhecer o camping contaram-nos que tinham estado a pensar em nós, pois o dono do camping estava a precisar de voluntários e eles lembraram-se que nos viajávamos dessa forma! (:



Com a pulga atras da orelha, fomos fazer o reconhecimento e adoramos o espaço! Simples, agradável, organizado e limpo, com uma cozinha comum ao camping e aos quartos do lodge cativou-nos de imediato. Assim que, enquanto esperávamos que chegasse o dono, fomos fazendo os nossos tramites: limpar a sanita e o deposito de águas sujas, limpar a carrinha, tomar banho e, por fim, cozinhar um belo jantar! Foi durante o jantar, na zona comum, que conhecemos o Guido, um amigo do Mauricio (o dono). O Guido era um velhote muito engraçado e falador, com 4 filhos, contou-nos que durante a ditadura morrem “apenas” 2000 pessoas: “Estaline mato muchos más!”, disse.



No dia seguinte levantamo-nos muito cedo para irmos ao Alma (Atacama Large Millimeter Array). Uma vez mais deixamos o carro à sombra, com a Levi a servir de alarme, e conseguimos chegar a tempo de sermos os últimos inscritos na lista de espera inoficial, ou seja, como é gratuito e tem muita afluência, é necessário inscrever-se previamente pela internet, na lista oficial, ou caso esta esteja cheia, na lista de espera oficial. Depois, no dia, há ainda a lista de espera inoficial, para aqueles que não se inscreveram em nenhuma das anteriores. Nós, portanto. Assim, ouvimos chamar trezentos nomes antes do nosso, sempre na expectativa de “será que vai dar?”. Deu à risca, para toda a gente que estava lá, vantagens da época baixa. Seguimos num autocarro cheio, até à base de controlo a meia hora da cidade, tal qual visita de estudo da escola. Ficamos no grupo de espanhol, e a nossa guia, Thais, era muito simpática! Começou por contar que o Alma é uma associação da Europa, América do Norte e Japão, que se juntaram para criar este observatório.



Cada um dos países têm as suas próprias antenas, mas não trabalham por conta própria, senão em conjunto. Todos os anos cientistas de todo o mundo concorrem a tempo de observação, e os projectos são seleccionados por um júri dos três países. É completamente gratuito e quase todas as investigações são também públicas, estão na página do Alma. Também nos contou a verdadeira epopeia que foi trazer todas as antenas para o local, uma vez que estas se dividem apenas em metade, sendo que o seu diâmetro é de 12 ou 7 metros. Vieram dos respectivos países em barco, até Antofagasta e da costa até ao Alma demoraram cerca de um mês, pela estrada, sendo que como são mais largas do que a própria estrada tinham de se retirar os sinais de transito para a sua passagem. Ao todo são cerca de 100 antenas, por isso imaginamos um verdadeiro clima de descobrimentos! Ultrapassada esta dificuldade, cada antena foi montada no hangar do seu pais, e dai transportada num camião especial, desenhado especificamente para este propósito por um alemão, e, até ao centro de observação em si demorava mais uma semana em transporte! finalmente montadas todas as antenas, a 5500m de altitude, o Alma estava pronto para observar um espectro de luz invisível a olho humano.



Entre outras coisas conseguem observar a temperatura das matérias astronómicas, as suas composições e outras coisas que não compreendemos. Descobriram moléculas de açúcar num planeta fora da nossa galáxia: doces descobrimentos (: Mesmo no final do recorrido fomos ver os camiões especiais que transportam as antenas para o observatório e ficamos espantados com as suas 26 rodas e tivemos também a oportunidade de conversar com um astrónomo, na sala de controlo. Entretanto já era tempo de voltar, mas o autocarro nunca mais aparecia…trinta minutos depois da hora marcada percebemos que o condutor tivera um acidente! Rapidamente informaram toda a gente da situação, advertindo que o condutor se encontrava bem e organizando a volta por prioridades. Tivemos sorte e ficamos logo no primeiro grupo, pois a Levi não podia ficar muito mais tempo no carro. Foi uma visita incrível e uma manhã muito divertida.


De volta ao camping sempre conseguimos combinar com o Mauricio o voluntariado: basicamente o nosso trabalho foi manter o camping, a limpeza e asseio dos espaços comuns e dos banhos, assim como forrar as caixas dos esquentadores com esferovite para a agua aquecer mais (:



Foram dias super tranquilos, trabalhávamos de manhã, fazíamos um mega almoço e cada um dedicava a tarde ao que queria. Eu andei a estudar e a treinar crocite enquanto o Pedro também se entreteve com as suas coisas. As noites é que eram a pior parte! A partir das 17:30h já não havia luz e começava a baixar a temperatura até termos de colocar todas as nossas camadas de roupa, e mesmo assim, andávamos desconfortáveis! Teve a única vantagem de nos fazer estar a dormir pelas 21h.



Conhecemos durante este tempo dois casais muito engraçados, primeiro a eta e o XXX, e passado uns dias a asia e o martin. Os primeiros eram um casal suíço, um pouco mais novos que nós que também viajavam numa T4 transformada por eles! Conversamos muito sobre as diferenças entre suíça e portugal, e apesar das diferenças salariais abismais não ficamos com vontadinha nenhuma de viver na suíça! Os segundos eram um casal de polacos, n casa dos 40 anos, super enérgicos e faladores. Já tinham viajada um pouco por todo o mundo e contaram-nos as suas peripécias com uma vivacidade tal que até ficamos com vontade de ir viajar para Africa!



Entretanto o Mauricio ficou doente, com vómitos muito fortes e consequentemente muita fraqueza. Assim que a nossa estadia programada para uma semana se prolongou para 10 dias. Entretanto, quando o Mauricio já se sentia melhor ficamos nós doentes! primeiro o Pedro, com uma diarreia que o atirou para a cama, e depois eu. O Mauricio foi impecável, deixou-nos continuar no parque sem pagar e até nos ofereceu um quarto, para durante a noite termos casa de banho (o que me salvou a vida, não sei o que teria feito com diarreia a cada hora e menos 5 graus lá fora!)



Neste espaço de tempo, a meteorologia piorou e as fronteiras foram fechada por causa da neve! Ainda fizemos mais um compasso de espera durante o qual aproveitamos para ir visitar o vale da lua, apesar de eu estar mais morta que viva, foi espectacular! É um vale rochoso, onde não há nada além de pedras e areia! Nunca tínhamos visto nada desta magnitude, um espaço onde realmente consegues imaginar que estás na lua. Apanhamos o pôr-do-sol e as cores engrandeceram esta paisagem surreal.



A correr, voltamos para nos aquecermos na carrinha e reajustarmos os nossos planos. Mas isso, é história para outro post.

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