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Pisco, Lima e a costa árida do Peru

Foto do escritor: CatarinaCatarina

31 Maio a 10 de Junho ´19


Ainda não tínhamos visitado nenhuma vinha na America do Sul, de forma a que achamos relevante aproveitar a zona denominada de Pisco e ir a uma bodega de….Pisco! Entre várias opções elegimos a de Tacama, por ter os comentários mais positivos do Ioverlander e não nos arrependemos! O lugar era lindo e a visita foi muito informativa. Começamos com alguma história do espaço e das primeiras plantações de uva, que chegaram com a conquista espanhola. Depois vimos as cubas e explicaram-nos o processo de fabricação dos vários tipos de vinho e do Pisco, que nada mais é que uma aguardente com D.O.C. por fim, a nossa parte favorita: a degustação! Depois de três vinhos e um pisco fortíssimo saímos de lá bem alegres, sacamos umas fotos tremidas ao por-do-sol e quase quase nos sentamos no restaurante chiquérrimo a degustar uma refeição (talvez seja mesmo essa a estratégia deles!).




Com muita força de vontade arrastado-nos para o carro e fomos dormir a Paracas pois tínhamos um encontro marcado com o Pacífico à vários meses. Não foi, no entanto, o melhor lugar para este reencontro tão esperado pois não havia como chegar à praia! Toda a marginal estava entupida com hotéis ou com entulho de obras. Encontramos um pequeno lugar espremido entre dois hotéis, mas com um belo relvado e acesso ao mar. O tempo cinzento e fechado, a água fria e estas construções não tornaram o ambiente do reencontro nada romântico. Resumindo-se a uma one night stand, empenhamos, na manhã seguinte, todo o nosso esforço num cafezinho local a escrever uma proposta de férias para os pais do Pedro. Pesquisamos, planeamos, orçamentamos, o Pedro juntou tudo numa apresentação top no photoshop e enviamos para eles, o pacote turístico criada pela “Olimpia tours” a nossa recente agencia de viagem (: Tanto trabalho abriu-nos o apetite e como estar na costa do Peru sem comer um ceviche?! Sentamos o rabo num restaurante local e deixamos que a vida nos oferecesse uma refeição dos deuses: sopa de peixe, vários tipos de ceviche, chicharron de pescado (como uma tempura de peixe) e refresco de lima! Ahhh, podia comer isto todos os dias minha vida! Dormimos em Cerro Azul, numa praia de surfistas e a rochas cobertas de escrementos de pássaro. Ai pacífico, assim não vai funcionar….




Demos um stand by no relacionamento com a beira-mar e fomos numa visita-relâmpago a Lima. Tínhamos três expectativas para a capital: conhecer a Fabiola, uma menina com quem comunicamos por couchsurfing, encontrar livrarias boas e consertar a máquina fotográfica. Só a primeira se cumpriu.

Chegamos num Sábado antes do dia marcado para o encontro com a Fabiola e de imediato fomos em busca de livrarias. Começamos pela mais conhecida, listada a par da Livraria Lello como uma das mais bonitas do mundo. Não compreendemos porquê. Apesar de agradável arquitetonicamente não tinha nada de especial e em termos de oferta bibliográfica muito menos, já para não mencionar os preços que eram exorbitantes. Desapontados continuamos a busca por outras zonas da cidade e por centros comerciais mas o resultado era sempre o mesmo: preços exorbitantes! Demo-nos por vencidos e como afagar as mágoas num restaurante tapa-buraco e admirar as luzes nocturnas de uma capital. Dormimos na berma da estrada, no ruído do transito e das pessoas da rua.



A Fabiola mora a cerca de uma hora de Lima e o que nos despertou a curiosidade no seu perfil foi o facto de ser educadora social, trabalhar com um grupo de mulheres e viver numa comunidade - ou bairro. Domingo de manhã encontramo-nos no café da praça de terra batida da comunidade, antes de subirmos juntos a ladeira íngreme, inclinadíssima, que conduz carros até metade do trajeto de sua casa. Empoleiramos a carinha no topo dessa ladeira, trancamos as portas a sete chaves e com o coração apertado subimos até sua casa. Literalmente quatro paredes e um tecto de zinco formavam o espaçinho dela, latrina a céu aberto, chão de terra batida e pó à volta da casa. Ao longe ouvia-se a bomba de água que enche os bidões das casas, única forma de ter água na comunidade. Foi desolador.

Por acaso, nesse dia, havia um festival organizado pelo grupo de jovens da associação dela, assim que deixamos a casa para trás e fomos ajudar com as montagens das bancas.



Este festival tinha a tónica na protecção do meio ambiente, por isso houveram oficinas de alimentação equilibrada, cosmética natural, croché com plástico, painéis solares, compostagem e por ai. Foi muito inspirado ver os jovens da comunidade tão empolgados no seu festival, pintando, montando e recebido os convidados com esmero. Com a Fabiola a trabalhar, passado algumas horas aborrecemo-nos e decidimos voltar a Lima para tentar apanhar alguns museus ainda abertos e aproveitar o facto de o primeiro Domingo do mês ser de entrada livre. Não funcionou muito bem pois os do centro, que queríamos visitar, estavam fechados ): Passeamos pelo centro da cidade, que ao contrario do que estamos habituados estava cheia de gente, música e muito ruído! Como a comunidade não nos pareceu um lugar muito seguro para dormir acabamos por voltar ao bairro chique: Miraflores e desta vez escolher uma rua mais calminho para dormir.



Segunda-feira foi caótica. Com o objectivo de arranjar a câmara fotográfica percorremos a cidade de trás para a frente, num trânsito frenético e enervante, não conseguindo, no entanto, ninguém para nos arranjar a lente, que se tinha enchido de areia. Contentamo-nos com os supermercados chineses que sempre nos dão a oportunidade de reabastecer de miso e massa de arroz (:

À noite encontramos novamente a Fabiola, desta vez no centro de Lima para partilhar um Pisco. Ela levou-nos ao hotel onde foi inventado o pisco-sour e estivemos à conversa neste lugar chiquérrimo, com um cocktail de pisco como desbloqueador de conversa. Entretanto juntou-se a nós um amigo seu, o Ricardo e quando os piscos acabaram mudamos-nos para um ambiente mais simples, digamos uma tasca! Ai, entre cervejas e um jukebox esticamos a conversa e a troca de opiniões, sobre o mundo sobre os nossos países, sobre a vida. Foi um serão agradabilíssimo que enriqueceu a nossa experiência na cidade!



Terça-feira acordamos de ressaca e absolutamente fartos do caos da cidade, por isso deixamos de parte todos os planos que restavam para a capital e seguimos para a costa!

Às vezes também é preciso ser flexível, deixar os planos de lado e seguir o que o corpo nos diz.

Lima ficou-nos marcada pela sua dualidade: a beleza da zona rica, com seus jardins magníficos à beira mar, bares e restaurantes bohemios, alta-gastronomia e lojas fancy e a pobreza e desolação dos bairros pobres, onde nem saneamento básico nem abastecimento de água há. Na zona de Miraflores há bunkers anti-cismo colectivos, na comunidade as casas são de papel. Se por um lado a arquitectura do centro histórico e destas novas habitações nos impressionou pela positiva, por outro o número de pedintes e crianças a trabalhar na rua fê-lo pelo lado negativo. Agradecemos à Fabiola por nos ter tornado a experiência mais calorosa e humana, e não a guardamos como uma cidade onde voltar.


A costa do Peru!

Pensávamos que afastarmo-nos dos Andes queria dizer adeus à terra árida e pedregosa mas estávamos enganados. À medida que subimos para o norte do país a paisagem pouco se alterou, sendo os caminhos ladeados de terra e pó apenas pontoados por pequenas zonas verdes, como oásis de vegetação, para logo darem lugar ao pó de novo. Assim se estenderam os 1200 km que nos separavam de Mâncora, a cidade costeira onde tínhamos o próximo voluntariado marcado.



Antes, fomos ainda conhecer o Eco-Truly Park, uma comunidade sustentável em Serra e Mar. Fizeram-nos uma visita guiada e foi impressionante ver como conseguiram revitalizar a terra arenosa antes morta, para dar lugar a um espaço frondoso e próspero, com vários tipos de verduras, frutas, legumes, plantas aromáticas! Outra vertente impressionante eram os trulies, casinhas cónica feitas de sacos de areia empilhados uns em cima dos outros até fechar a circunferência. Para finalizar a visita mostráram-nos o planetário, uma zona de aprendizagem espiritual onde cada truly corresponde a um ensinamento e uma fase, encadeado até se alcançar o centro da planta, a elevação espiritual.



Também antes de chegarmos aconteceu-nos rebentar a caixa de mudanças! Já estáva a dar de sí há muito tempo, mas precisamente no dia em que eu estava a conduzir deixou de engatar qualquer mudança excepto a 4ª, só para o Pedro ter o pretexto de dizer que fui eu quem estragou, ahahaha. Lá tivemos de ir de urgência ao mecânico, em Chiclayo, e contra todas as expectativas fomos super bem atendidos, resolveram-nos o problema rápida e eficazmente e sem nos cobrarem um rim!



O ultimo fim-de-semana antes do voluntariado foi passado em Lobitos, um pequeno pueblo costeiro e de surfistas, bem pitoresco, que tanto havia encantado os nossos amigos franceses Jane e Alex. Realmente as casinhas de madeira, a tranquilidade e boa disposição da pessoas conferem-lhe uma onda muito cool. Entre cozinhar coisas deliciosas, fazer crochê, banhos de mar e passeios na areia chegamos a Mâncora com a energia ao rubro e as expectativas altíssimas!

Um mês de pura aprendizagem estava à nossa espera…..



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