entre junho e julho ´19
Como o Pedro já falou nos posts anteriores os dias na escola de crianças especiais não foram pêra doce. Se lidar com crianças, no geral, já exige uma série de predisposições, como paciência, calma, amabilidade, boa comunicação, então com crianças especiais, cujo raciocínio não nos é compreensível, ainda mais.
Na primeira semana, entusiasmadíssimos tentamos aplicar os valores que acreditamos serem os melhores para viver com pequeninos, como o igual-valor, a integridade, a responsabilidade e, acima de tudo, a criatividade. E foi aqui que o Pedro se revelou!
Sem nunca perder a calma e o raciocínio sempre encontrava formas criativas de levar as crianças a fazer o que era necessário, fosse inventando um jogo, uma corrida, levando-as às cavalitas ou propondo trocas! Era o preferido do Dayron, que chegando à escola corria para o seu abraço. Além disto desde a primeira sexta-feira em que tivemos de decorar o espaço para o dia do pai que ele se sobressaiu nos trabalhos manuais. Copia com esmero qualquer desenho para escalas aumentadas, pinta, cola, agrafa, faz 30 por uma linha para deixar a escola mais bonita. Com isto ganhou também a preferência da Elisabete, que tanto apreciava a sua ajuda.
Muito nos divertimos com as crianças! Entre abraços e carinhos vamos saltando de uma actividade para outra, de uma criança para outra. Ríamo-nos com os seus movimentos desajeitados, incentivávamos afectos, desdobrávamos em 4 braços e muitas mãos para atender a tantas solicitações. À noite, desmaiávamos de sono e cansaço pelas 20h, exaustos, mas felicíssimos por estarmos a partilhar esta experiência.
Nas primeiras semanas a nossa estratégia parecia estar a funcionar, mas à medida que o tempo foi passando fomos compreendendo que, pela sua natureza ou por uma questão cultural, a relação dos outros adultos com as crianças era totalmente antagónica da nossa: nada se fazia sem gritos, puxões, empurrões, ameaças! E quando algo positivo era alcançado também a reacção era de elogios gritados a decibéis bem mais acima do necessário, palmas desenfreadas, recompensas físicas como balões. Assim fomos compreendendo que a nossa estratégia não funcionava neste ambiente, por uma questão de costume e também porque ficávamos subterrados, inaudíveis no meio deste escarcéu. Aos poucos fomos esmorecendo e usando algumas formas de relacionamento instauradas, o que nos deixou profundamente desiludidos antes de mais connosco mesmos. Até tomarmos uma decisão: a de que não nos vamos chatear! Não vamos ficar tempo suficiente com eles para sentir alguma diferença em termos pedagógicos portanto o nosso objectivo era usufruir de todos os momentos com eles, e tudo melhorou. Deixamos de fazer grande caso das regras e dos objectivos e focado-nos apenas no bem estar e nas brincadeiras. Por vezes até esta posição era difícil, mas regra geral resultou muito bem e levamos recordações maravilhosas desta experiência inusitada!
Com eles aprendemos a alegria! Num ambiente desfavorecido e difícil, eles, todos os dias, chegam à escola com um sorriso de orelha a orelha e um abraço para nos envolver.
Gracias, gracias.
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