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Magallanes ou A Patagónia Chilena parte \

Foto do escritor: CatarinaCatarina

31 de Março e 1 de Abril, 2018



Acordámos com frio e mal-humorados. Talvez por isso quando um casal nos veio pedir boleia tenhamos feito cara torta. Bom, mais eu do que o Pedro. É preciso disponibilidade mental para este contacto social forçado e nem sempre a tenho.- “Só temos um lugar”, respondemos. - “Que bom! Assim podem levar o nosso amigo, que está ali mais à frente!”

-.-´


Desconfiados mas curiosos, fomos avançando até àquele que seria a nossa primeira boleia. Desafortunadamente não nos lembramos - nem percebemos bem - do nome dele. Mas disse-nos que ia para um pueblo a meio caminho do nosso itinerário por isso vencemos a nossa timidez, convidando-o a subir. E ainda bem! Foi uma viagem muito divertida, com imensas horas de conversa.


O nosso convidado era japonês, trabalhou numa agência de publicidade em Tóquio e viajava já há muito tempo. Entre viagens ia trabalhando nos Estados Unidos, mesmo sem papeis, para juntar mais dinheiro para viajar.



Foi assim que transcorrendo as tropicais e verdejantes paisagens da Patagónia Chilena, viajamos até à Ásia. Contou-nos sobre o desapego dos pais pelos filhos, das diferenças da educação, na simplicidade culinária, no enfoque que se presta à comida nas horas de refeição, na dedicação ao corpo e à mente e nos rituais de chá. Contou-nos também que faz e vende sushi pelo caminho e com ele aprendemos que é normal sentir nervosíssimos nas primeiras tentativas de venda ambulante. Partilhamos um almoço asiático, no bosque morto, com os nossos ingredientes e os seus condimentos e sentimos alguma pena ao despedir-nos, no final do dia. Não trocamos contactos, mas nunca nos vamos esquecer.

Dormimos num cerro em Coyaque, prontos para mais um dia de trâmites, sem saber que Domingo de Páscoa, no comércio seria pior que o dia de Natal.



O nosso dia das mentiras foi uma verdadeira anedota. Acordámos sem vontade de realizar as tarefas mas com a noção de que estávamos no limite do razoável. Começamos por levantar dinheiro, dançando de banco em banco, para confirmar qual o que oferece as taxas mais baratas. Seguimos em busca dum hostel para tomar banho - tarefa difícil com o nosso gps - e acabamos por encontrar um que nos cobrou 2000 pesos.


Reconfortados e limpos, seguimos para o supermercado. Confirmamos que a altura do parque subterrâneo era suficiente e entramos a medo, mesmo assim. No entanto passamos com bastante margem e por isso voltamos a nossa atenção para a procura de lugar. Assim distraídos, fomos apanhados completamente de surpresa quando um ranger ensurdecedor nos fez parar a carrinha. Confusos, demoramos vários segundos a perceber que tinha vindo do tecto e que só podiam ser as nossas malas. De um pulo, saltamos dos nossos assentos para comprovar que um dos nossos piores pesadelos acabara de acontecer: batêramos com as malas no tecto do estacionamento!!! Desarmamos tudo para ver quão grave tinham sido os estragos e também para poder sair do parque. Empenou um pouco o tecto e também a própria grade, mas não tanto quanto temíamos. Mal-humorados e cansados, fomos em penitência ao supermercado, praguejando contra a estupidez de quem construiu o parque, quem pôs mal os sinais, quem o administra e também contra os preços altíssimos da comida.


Depois de tanta emoção já não estávamos com mood para fazer a grande refeição de Páscoa, que tínhamos planeado por isso aviamo-nos simplesmente com umas gigantescas sandes de fiambre, queijo, tomate e manteiga de coentros. De seguida, fomos tentar encontrar uma eco-aldeia, que sabíamos ser perto, mas sem grande sucesso.


O dia acabou connosco na praça central, a utilizar a net pública, tentando encontrar mais workaway’s e conversando com a família e os amigos. Cereja no topo do bolo, o carro ficou sem bateria. Após algumas abordagens, o Pedro lá encontrou alguém que a meio da noite se disponibilizou a ir buscar uns cabos de bateria, para nos salvar daquela situação. Enquanto eles conectavam as duas baterias, um camião passou pela praça e consigo puxou os fios de electricidade e um poste inteiro! Grande parte do centro da cidade ficou às escuras e nós aproveitamos para ir dormir, antes que mais alguma coisa acontecesse.



Há dias assim.

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