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El Calafate & O Glaciar Perito Moreno

Foto do escritor: PéterPéter


Chegamos a El Calafate já de noite. Depois de algumas voltas, estacionamos num parque comum ao posto de turismo e ao restaurante do Automóvel Club da Argentina. Certificamo-nos que o carro ficara nivelado, para que ninguém caia para cima de ninguém enquanto dorme, e entregamo-nos aos prazeres do sono. No dia seguinte, saímos pela manhã fresca prontos para conhecer a cidade mais turística do fim do mundo.


Uma avenida estende-se ao longo da cidade e aí circula todo o movimento. Restaurantes seduzem-nos com o seu ar bom e caro. Multiplicam-se também os bares. Em toda a Argentina, a cerveja artesanal está mais do que na moda. Não faltam as típicas lojas de sourvenirs, com postais das montanhas e dos lagos, lado a lado com os tangos de Buenos Aires. Para quem se esqueceu de comprar um postal para a família na capital, como a Catarina, este é o sítio ideal. Apesar da efervescência turística, a cidade é simpática. Não deixa de ser atractiva e há uma boa energia que circula pelo ar.


Informamo-nos dos preços para visitar o glaciar Perito Moreno, o grande protagonista de toda esta movida turística. Uma vez que iríamos cruzar a fronteira para o Chile dentro de poucos dias, decidimos que não íamos levantar dinheiro e pagar as respectivas taxas. Resolvemos, então, trocar os nossos últimos euros, que por sorte correspondiam à quantia certa para os dois ingressos. Já na casa de câmbio, descobrimos que com a taxa de conversão desse dia, afinal iria-nos faltar cerca de 2 euros para atingir o valor dos bilhetes. Por sorte, a menina que nos atendeu foi solidária com a nossa cara de criança que desceu cair o gelado. Sem hesitação, bateu com a palma da mão em cima da mesa, apresentando-nos uma nota de 50 pesos. “Não seja por causa disto que não vão ver o Glaciar!”, disse. Agradecemos imenso o gesto e saímos de carteira e coração recheados.



No dia seguinte, acordei de madrugada. Estava convencido que quanto mais cedo chegasse, menos pessoas iriam estar no glaciar. Tal facto era importante, pois queria ouvir o som do gelo a desprender-se. O Parque Nacional XXX, onde está o glaciar, fica a cerca de 60km de El Calafate. Ocupei a frente do carro com a Levi como co-piloto, pois a verdadeira co-piloto ficou a dormir na parte de trás. O Sol nascia no horizonte, por trás das montanhas, mesmo na direcção do nosso destino. Tendo em conta a quantidade de carros que, alheios a este espetáculo da natureza, me ultrapassava a toda a velocidade, percebi imediatamente que a minha tentativa saíra falhada. Talvez pudesse ter feito as coisas com um pouco mais de calma. Ou com um café no sistema nervoso, pelo menos. Pois, esqueci-me completamente que é proibida a entrada de cães no Parque Nacional. Apenas me recordou tal regra, a cara de estupefacto do guarda que cobrava os bilhetes à janela do carro, quando viu, que com todo o desplante do mundo, eu trazia um cão no banco do lado como se nada fosse. Demos meia volta e fomos embora.



Parámos para repensar os planos e para a co-piloto se espreguiçar e despertar para o dia. Tomamos o pequeno-almoço e o tão necessário café. Enquanto a Catarina fazia uma tarte gulosa com cobertura de queijo creme (coisas que se podem fazer sob a desculpa de não se ter gás), eu e a Levi fomos fazer uma sessão fotográfica. A ideia era capturar o momento dela a apanhar a bola no ar. Como uma brincadeira entre dois irmãos, era óbvio que a coisa não ia acabar bem. Não demorou muito para a Levi se espatifar contra a câmara, eu aleijar-me e a Catarina resmungar com os dois. De barriga cheia e com açúcar no sangue, passamos ao plano B. Esconder o cão entre os lençóis e rezar para que ela não fizesse barulho nenhum, quando o guarda viesse cobrar os bilhetes à janela. E assim foi. Tudo correu como planeado, desta vez.



Em relação ao glaciar em si, não há muito a dizer. Não porque este não o mereça, mas sim porque não tenho o dom da palavra para descrever a sensação de estar perante esta maravilha da natureza. Este tipo de fenómenos parecem viver num limbo dentro da nossa cabeça, onde os olhos confirmam que o que vemos é real, mas há qualquer informação no nosso cérebro que desconfia até ao fim. Obviamente não se consegue ouvir o gelo a derreter, como me descreveram. Ouve-se, sim, o turbilhão de toneladas de gelo a caírem de vez em quando. Ainda bem que não conseguimos entrar de manhã. É ao final do dique maiores pedaços do gelo caiem, devido ao calor a que estão expostos durante todo o dia.



Por fim, abandonamos o local sem termos sido apanhados. De volta a El Calafate, experimentamos o famoso Cordero al Pallo patagónico. O nosso estava um pouco seco, mas ainda assim recomenda-se!


24, 25 e 26 de Março, 2018

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