Apesar da viagem ser o nosso dia-a-dia… ou melhor, precisamente porque viajar é o nosso dia-a-dia há quase um a no e meio por vezes há momentos em que subitamente tomamos uma consciência maior do que estamos realmente a fazer: realizar um sonho.
Lembro-me desta sensação nos ter invadido quando entramos na Patagónia, entre as montanhas da Bolívia, junto ao Alex à Jane e ao lago Ipoã e múltiplas vezes algures pelo Brasil fora. Assim quando nos vimos e navegamos pela primeira vez no lago Titicaca, que por anos foi o fundo de écran da Catarina, o Macchupitchu também passou d num plano virtual para o real. No nosso planeamento sempre existiu a preocupação de como ia ser esta visita pois necessitávamos de uma soluções para o cão e para a casa e, na verdade, não percebíamos muito bem como se chegava às ruínas sequer. Estes dias relembraram-nos de quando éramos um pouco mais pequenos e estávamos fechados em casa com o mapa da America do Sul na parede. Eu pesquisava onde comprar mais um acessório que faltava na nossa casa e a Catarina perdia-se entre emails e reunião de informação.
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Caímos de novo na realidade vindos do planeta melado da nostalgia e do agradecimento. Aos nossos ouvidos as buzinas (muito se buzina neste país):
-“O carro não liga de novo, há que pedir a alguém para ajudar a empurrar”.
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Já só dormimos com a cabeça para baixo de forma a que no dia seguinte pudéssemos pegar o carro em andamento, a única forma dele começar a trabalhar. Não dava para fugir mais, tínhamos de arranjar uma solução para o problema. olhando para os bolsos lá nos fizemos acreditar que bastava apenas trocar um cabo que estava oxidado e com má cara…não funcionou. Talvez seja algo mal conectadopor caso dos saltos na estrada…não era. Talvez amanhã esteja melhor, como uma gripe…não aconteceu. Não há volta a dar, temos de comprar uma bateria nova. Desculpa Levi, vamos baixar o nível na qualidade da tua ração! Ao contrario dos palpites dos mecânicos que visitamos não havia que sacar e trocar as pontas de cobre do motor de arranque, avaliando os sintomas do carro a minha intuição insistia que a raiz do problema seria mesmo a bateria. Estava certo.
E como estou a aprender a discernir melhor e a acreditar nas minhas intuições, no final até fiquei contente que o carro tivesse avariado uma vez mais.
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Isto deu-nos mais que tempo para conhecer Cusco, ou melhor, os espaços públicos de Cusco. Um passo adentro da maioria das alçadas e para lá de cada porta quase tudo se paga. Fizemos de num descampado no alto da cidade a nossa base, ai deixávamos a nossa casa e o cão a fazer de alarme. Para alcançar o centro bastava descer apenas uma rua, e a essa rua nos demos o nome de “No gracias!” De cinco em cinco segundos agradecíamos e negávamos ofertas de menus turísticos aborrecidos (quem quer comer espaguete à bolonhesa ou pizza na America do Sul?!) de massagens incas ou tours turísticas.
Domingo a praça encheu-se de gente neste dia as freguesias sempre se reunem para procissões e festas. Cusco sempre tem muita gente na rua, não obstante é agradável pois há imensas praças e as ruas principais são largas. Sendo uma das cidades mais turísticas do continente, é, na verdade baste simpática.
Ao final de alguns dias, a observação percorre melhor o espaço e detecta lacunas imperceptiveis à primeira vista. De repente, apesar da cidade ser extremamente bonita e a atmosfera apelativa, sentimos que em parte era quase perfeita, e como a perfeição não existe algo nos soava artificial. Apesar do centro se manter histórico todos os espaços estão alocados a serviços turísticos, todas as portas são ou de agências de turismo, ou de venda de roupa e artesanato andino, ou, ainda, de restaurantes turísticos. É como se a fachada remetesse para um tempo histórico mas seu conteúdo não pertencesse ao lugar e à sua gente. Numa cidade ampla com tantas praças estranhamos a inexistência de música ou outras actividades, típicas deste continente, e viemos a descobrir que este tipo de expressão estavam proibidas.
Um outro pormenor também nos chamou a atenção e desta vez um positivo e digno de se seguir o exemplo. Já os tinham descrito Cusco prejurativamente descrevendo a cidade e sua herança histórica estava invadida por cadeias internacionais. Para além de não ser verdade (talvez quem nos disse isso nunca foi a uma capital europeia) havia ainda umpromenor interessante, estas cadeias como o macdonald ou o starbicks, ao contrario do habitual não tinham sus letreiros gigantes e cores garridas. A arquitectura havia sido respeitada e o os logotipos estavam discretamente inseridos nos edifícios, ao ponto de na verdade nem se verem muito bem.
Depois de alguns dias deste teatro peruano, onde sempre desempenhamos o papel de dólares ambulante, arrancamos rumo ao macchupichu que apesar de ser o mote de arranque deste post terá de ficar para um próximo.
Não percam o próximo episódio porque nos também não.
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