Se a primeira semana foi totalmente dedicada à quinta, a segunda foi muito mais voltada para as tarefas de fora já que quartas e sábados são dias de ir a Assunção vender os produtos em feiras.
Começamos a semana por catar cenouras. Eles semeiam muitas sementinhas, e depois de despontarem é necessário desbastar, deixando ficar apenas as plantas mais fortes e sacando as restantes. É simples, mas muito demorado! Para cada lado do bancal demorávamos cerca de uma hora.
Calhou-nos cozinhar e desta vez fizemos um risoto! Demlamos os cogumelos secos que os nossos amigos Christen e Martin nos ofereceram, cozemos abóbora para juntar ao caldo reduzida em puré, e num instante tínhamos um panelão de arroz! Estamos a ficar especialistas a cozinhar com fogo - não é tão fácil quanto parece (; Nesta noite chegou a Michelle, uma voluntária estadunidense muito cómica, que anda a viajar sozinha. A Michelle recusa-se a falar inglês, pois veio nesta viagem para aprender espanhol e também não falha nenhum dia o seu caderno de exercícios gramaticais. Tem muita força e é muito proativa. Foi muito inspirador conhecê-la.

O céu foi escurecendo, escurecendo, carregando-se de água, até que terça-feira quando estávamos todos a limpar o terreno, finalmente choveu. Só tivemos tempo de correr para debaixo do teto do espaço comum e VRUM! Desabou uma tempestade fortíssima, que durou todo o dia! Trocamos a tarefa ao ar livre para carregamento de macetas, ou seja, encher pequenos vasos com terra abonada, e tivemos de nos adaptar à humidade presente em todo o lado. Pela tarde, presos no espaço comum, entretivemo-nos a jogar às cartas e a fazer artesanato.

Quarta-feira, eu e o Pedro fomos até Assunção, no carro da Julia, para vender legumes na feira de vecindad. É preciso contar que o carro da Julia está a cair aos pedaços, para andar em frente tem de se apontar o volante para a direita, o ponteiro da temperatura estava preso no máximo e o travão de mão avariou quando estávamos a estacionar na descida para a feira! Ah! e o pedro não descobriu como engatar a marcha-a-trás. No final, sobrevivemos.
A feira das quartas é exclusiva dos elementos da Tribu e é feita à porta da casa da coordenadora/ comunicadora deste grupo. A Tribu é um conjunto de produtores da qual fazem parte a Julia e o Andrés, como eles há mais uma quinta, há também um negocio de conservas e um produtor de cerâmica. A Gio é a super-comunicadora e alma do grupo. É uma pessoa incrível, com uma energia contagiante e uma luz muito própria. Juntamente com a Leti - de Tukokue, o negocio das conservas - e da Nati, uma amiga de todos, receberam-nos super bem! Fizeram-nos logo café italiano, que nos deixou a tremer pela sua intensidade, e por todo o dia iam chegando deliciosas iguarias preparadas pelo Fito. O Fito é produtor num programa culinário que dura há 35 anos. Também é professor de audiovisual numa escola do bairro Chacaritas, dedicada a ensinar cinema a jovens em risco. Começamos com chipas - uns pequenos pãezinhos de queijo - seguimos para mbeiju - um crepe de farinha de milho, amido de mandioca, queijo e ovos - e continuamos com duas deliciosas tortas: uma de banana e amendoim e outra de clementina. Passamos um dia incrível conversando com estas pessoas que nos receberam totalmente como amigos, e prometemos voltar a encontrar-nos.
No dia seguinte despedimos-nos do Nico e da Rose, que seguiram a sua viagem em direcção à Bolívia.
Como tarefa estivemos a acabar os bancais das cenouras, depois seguimos para a limpeza das mandalas semilheiros e transplantamos aipos da mandala para as macetas. O processo é: primeiro atira-se sementes para a mandala semilheiro, depois transfere-se as plantas mais fortes para macetes no viveiro, e depois destas fortalecerem são mudadas para os canteiros. Várias vezes nos indagamos sobre a eficiência deste processo, pois ocupa muito tempo e desgaste físico: preparar a mandala, limpá-la das ervas daninhas, transplantar para macetas e dai para um bancal novamente, fora as regas. Mas supomos que se eles fazem assim é porque vale a pena. Estivemos também a fazer contas por alto e cremos que, com um hectar plantado, aqui, conseguem ter um ingresso equivalente a 800 euros. A verdade é que não nos parece tanto, ainda mais pensando que estás completamente dependente de voluntários, pois eles os três sozinhos não conseguiriam fazer tudo.
Durante esta tarde aventuramo-nos nos caminhos do empreendedorismo. Desde que conhecemos o nosso amigo japonês, o Pedro tinha na cabeça vender comida na rua, assim que, como no dia seguinte íamos visitar a escola alternativa onde a Julia dá aulas, aproveitamos para produzir bolachas e trufas para levar para a merenda das crianças e ver que tal as reações.
Estávamos neste processo, cheios de massa até aos cotovelos, quando chegaram a Jeanne e o Alex, um casal de franceses que viaja numa Delica, e que se puseram logo a rir connosco. Foi engraçado porque nestes primeiros dias até nem simpatizamos tanto com eles, mal sabíamos nós que se tornariam os nossos melhores amigos.

Na manhã seguinte o Pedro acordou doente, de modo a que acabei por ir sozinha com a Julia à escola.
A Julia é bióloga de profissão e desde há dois anos que começou a leccionar. Primeiro num colégio, também alternativo, em Assunção e um ano depois numa escola alternativa de Aregua, Kunumi.
Kunumi é incrível. Foi criada pelos próprios pais por não encontrarem perto de suas casas nenhuma alternativa à escola publica. Assim, cada pai ou mãe lecciona ou trabalha de alguma forma na escola. Têm infantil, com duas turmas de cerca de 8 alunos cada e também dois níveis diferentes da primária. A primeira turma com alunos entre os 6 e os 8 e a segunda entre os 10 e os 12. A Julia dá aulas de ciências, com uma metodologia muito interessante, a da indagação. São os próprios alunos que levantam as questões e propõem formas de as investigar. O papel do professor é ser um mero condutor do desenvolvimento do conhecimento. A Julia passou-me um manual do Canadá onde começaram esta metodologia, a qual agora faz já parte do currículo das escolas publicas! Tenho estado a estudá-lo com afinco. De volta à escola, numa das turmas estivemos a explorar e descobrir sobre a metamorfose e os girinos, e na outra sobre os caracóis. Como foi o ultimo dia de aulas antes das férias de inverno, a meio da manhã fizemos um lanche compartido, com as bolachas e as trufas, salada e sandes de queijo e verduras! Para finalizar dançamos em circulo e os pequenos voaram com toda a excitação para as suas férias.
O Pedro, apesar de doente, fez um grande esforço para no final do dia conseguirmos produzir as nossas trufas e não vacilar no empreendedorismo. São trufas feitas com puré de batata-doce, cacau e amendoim, bem fáceis, baratas e de confecção simples. Claro que como foi a nossa primeira grande produção demoramos imenso mas com a resiliência do Pedro chegamos ao final com 72 trufas gostosas e bonitas, prontas para marcharem para a feira, no dia seguinte.
Como pela manhã continuava doente, acabei por ir sozinha com a Julia à feira, para seu grande desgosto.
Chegamos à praça Itália, em Assunção, pelas 8h e já estava a maior algazarra: feirantes montando as suas mesas, pessoas descarregando plantas das pick ups, as senhoras da comida a zangarem-se pela eletricidade, enfim, uma energia muito própria das feiras. Montamos o nosso cantinho e num instante apareceram a Gio, a LeTi, a Nati e o Fito, carregados com o resto dos produtos. As nossas trufas também tiveram lugar, e foram um sucesso! Vendemos todas, graças também ao dinamismo da Gio. É muito divertido feirar: falar com as pessoas, sugerir legumes, dar a provar, fazer trocos, conversar com outros feirantes e com a própria Tribu! Foi uma manhã bem bem intensa. O Fito e a Gio divertiam-se muito a contar às pessoas que eu era de Portugal e faziam-me acenar como uma ave exótica. Divertido cambio de papeis, pois para mim exótica era essa praça cheia de bananeiras, papagaios, flores com cores exuberantes e pessoas tão simpáticas.
Ah! E as nossas trufas voaram! Vendemos todinhas (com excepção das que oferecemos à equipa, hehe)! Grande sucesso!
Antes de voltarmos para a Arigua ainda passamos pela casa da mãe da Julia e pela da mãe do Andrés, para deixar legumes da quinta (:
Domingo foi dia para desmaiar de cansaço, e decidir ficar mais uma semana. Estamos tão bem!
2 a 7 de julho
Comentários