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• Arigua • primeira semana •

Foto do escritor: CatarinaCatarina

Chegamos numa segunda-feira chuvosa e húmida. O Andrés acenou-nos do meio do campo e recebeu-nos com entusiasmo. Entramos e fomos conhecendo as pessoas que lá estavam: o pai e o tio do Andrés, Zeferino e Serafim, ambos na casa dos 70 e muitos anos; a Rose e o Nico, respectivamente da Catalunha e da Argentina e o próprio Andrés, claro! Antigo administrador financeiro, pegou no espaço que anteriormente a irmã utilizava para produzir leite e carne e, em conjunto com a sua companheira Julia, transformou numa quinta agro-biológica de produção de legumes. Resta dizer que ambos têm a nossa idade!



A nossa primeira tarefa foi cozinhar uma sopa para todos. Ultrapassamos a prova com sucesso e passamos o resto da tarde à conversa com a Rose e o Nico (mais a Rose, que ia usando todas as palavras do Nico), ambientando-nos ao sítio. A quinta tem dois espaços habitacionais: a casa grande, que não é ocupada, pois pertence à irmã do Andrés, e a zona comunitária. Nesta, há a casa de banho, o quarto da Julia e do Andrés e o quarto dos voluntários. A cozinha e espaço comum de refeição/ socialização são ao ar livre, apenas cobertas por um telheiro antigo. Na cozinha só há fogão a lenha e as bancadas estão cheias de frutas e legumes. O espaço comum tem uma mesa corrida de madeira, com muitas cadeiras e espaço para sempre mais um.

Há também a zona de camping, perto da casa grande, que permite hospedar mais voluntários.

O quarto dos voluntários estava à nossa espera. Instalamo-nos nesta habitação, simples, feito de barro e com bonitas pinturas nas paredes, deixadas por outros voluntários. O que mais nos encantou foi não haver vidro na janela! As cigarras gritam e as folhas sussurram, parecendo que a noite entra pelo quarto e te embala até adormeceres.



Nesta quinta trabalhamos das 7h às 12h com uma pausa a meio da manhã. O almoço fica a cargo de uma ou duas pessoas que se encarregam apenas desta tarefa durante a manhã toda, para podermos comer consistentemente. Quase nunca se cozinha com carne, as saladas e os sumos são abundantes e praticamente só usamos produtos da quinta. Claro, a farinha, o açúcar, a erva mate e o pão vêm de fora, mas o resto não. Não é usual haver lanche e o jantar é por conta de cada um, sendo que quase sempre nos organizamos para fazer algo para todos. O Max, um voluntário que chegou entretanto era o chef das tartes de lanche, e também nos mostrou um mini-nano-mercado com alfajores e bolinhos a 15 cêntimos cada! Também o tabaco é extremamente barato, 0,40€ o maço, o que é uma má noticia para o consumo do Peter.

As tardes são livres e noites são livre!



Assim, na primeira manhã, quando o despertador tocou às 6h nem queríamos acreditar, ainda estava de noite lá fora! A custo arrastamo-nos da cama e cambaleamos até à cozinha. Ainda a dormir, confundimos o cozido com café. O cozido é uma bebida típica do Paraguay, que consiste em caramelizar a erva mate com açúcar e só depois acrescentar água, ferve, ferve, ferve, e coa-se. Não somos grandes fãs de bebidas açucaradas, mas esta é maravilhosa! Ainda mais quando acompanhada de coquitos, uns palitos de biscoito de agua e sal, completamente viciantes e que parecem ter sido criados para acompanhar o cozido (:

Com esta explosão de energia arrancamos para o campo! As nossas primeiras duas manhãs foram dedicadas a arrancar ervas daninhas dos bancais de cenouras! Uma tarefa delicada, demorada e que exige muita paciência. Eu gosto, o Pedro nem tanto (: É que nesta quinta a terra é incrívelmente solta e limpa, com muita argila, muita matéria orgânica e poucas pedrinhas, assim é um prazer, mesmo com frio, estar em contacto físico com este elemento.



Na terça-feira tivemos de ir ao veterinário comprar anti-pulgas para a Levi pois a população canina da quinta estava infestada: desde a mãe até ao ultimo dos seus três filhotes. Os veterinários eram um casal muito castiço que viveu durante 15 anos em Filadelfia, na colónia Menonita. Contaram-nos muitas coisas sobre esta colónia alemã. Como por exemplo, no inicio era proibido aprender espanhol, para que não se misturassem com o Paraguaios; hoje em dia ainda é uma ofensa faltar à missa e o padre vai realmente a tua casa ver se está tudo bem; só algumas crianças podem sair para estudar na Universidade e não podes ter visitas sem avisar previamente o padre. Por outro lado são muito trabalhadores, contaram-nos.

De volta à quinta tentamos espalhar anti-pulgas por todos os elementos caninos, sem grande sucesso. Apesar desta falha os cachorrinhos eram tão pequeninos e queridos que eu nem me importava com as pulgas e nos primeiros dias tinha sempre um cãozinho ao colo. A Levi gostou muito da sua casa nova e adaptou-se num instante! Aprendeu a respeitar os seus espaços de comida e assim nunca se zangaram.

Apesar de mais habituados ainda nos custava acordar tão cedo, também devido às baixas temperaturas. Os primeiros dias de calor abandonaram o Paraguay e foram trocados, progressivamente, por temperaturas mínimas de 7 graus. Em cima, a taxa de humidade anda nos 80%, portanto as manhãs não eram, definitivamente, muito agradáveis.



Na quinta-feira o trabalho mudou e tivemos de ir preparar terreno, ou seja, cortar pasto, arrancar raizes e e arrastar todas estas matérias para o composto. O Pedro gostou, eu nem tanto (: Claro que para a Levi foi um paraíso, com toda a gente a atirar-lhe pauzinhos (: Neste dia chegou também o Max, um voluntário francês de 24 anos, muito muito divertido (o chef das tartes)! Dia 29 foi dia de fazer nhoquis, uma tradição, tal como na Argentina e no Uruguay, de se poupar no final do mês. Eu e a Rose agarramo-nos à farinha e estivemos a esticar um sem fim de massinhas. As primeiras não nos sairam tão bem, mas atualizando a quantidade de farinha conseguimos uns noquis bem deliciosos.

No sábado começamos o dia sem saber que seriamos eliminados do mundial. Desfrutamos da nossa tarefa de limpar ervas daninhas do cebolinho, escutando os pássaros e sentindo o odor a terra húmida. Almoçamos um guiso e partimos para a beira da estrada nacional em busca dum local para assistir ao jogo. Já a meio da primeira parte, encontramos um desses típicos lugares para comer carne assada na grelha, que se chamam “assadito” e só servem realmente carne e mandioca. Estava a passar o jogo e pedimos para assistir. Não vendia cerveja, por isso aconselhou-nos a irmos buscar à mercearia ao lado, logo quatro de uma vez de preferência (: Assim assistimos à derrota de Portugal, com cerveja gelada, num assadeiro ao ar livre à beira da estrada, de chapéus na cabeça - o tempo deu uma trégua - Derrotados, mas com a vida igual, voltamos para a quinta a tempo de evitar que a nossa primeira grande tempestade tropical nos caísse em cima: choveu tanto e durante tanto tempo que por baixo da nossa mesa da sala de estar (ao ar livre) passava um rio de água! Também começou a pingar no nosso quarto, mas ninguém parecia muito importado com nenhum destes factos: a vida seguia normalmente. Só nos dois nos abismávamos com a força da natureza.



O nosso primeiro domingo - dia livre - foi dedicado a fazer exercícios de yoga e de bioenergética, como já estávamos com o chip de acordar cedo às 8h tínhamos o pequeno almoço tomado. Fizemos uma caminhada - larga - até ao pueblo de Aregua, fomos conversando e admirando as casitas e estradas de pedra, a igreja completamente colonial - onde se casaram o Andrés e a Julia - e a quantidade de atendentes à igreja. Às 10h estávamos cheios de fome, então decidimos “almoçar”: comemos um grande troço de carne, num assadito da aldeia. Depois fomos conhecer o lago e a praia fluvial, e aí o calor começou a apertar! Com todo o caminho de volta a subir e uma caloraça infernal chegamos derreados à quinta. Tomamos o nosso primeiro banho - só há agua fria - e dedicamos o resto do dia a estudar.

25 de junho a 1 de julho

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