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São cinco da tarde e estou sentada debaixo duma mangueira, a escrever. Corre uma brisa quente, partilho o lugar com os mosquitos, as formigas cortadoras e umas lagartas peludas. Daqui vejo toda a horta principal. Com duas zonas de bancais separadas por uma vereda de frutíferas: papaias e bananas. Ao fundo os coqueiros marcam a sua silhueta contra um azul pastel celeste, cruzado por bandos de pássaros. Perto, escuto as cigarras e um tucano, ao longe uma moto serra denuncia a proximidade com a civilização. A esta hora já não, mas durante o dia passam carros barulhentos anunciando em alta voz suas mercadorias: chipas, gás, compradores de ferro velho. Esta horta, que nós ajudamos a levantar, tem aipo, beterraba, cebolinho, coentros e salsa. Também tem alface, brócolos e couve. Tomates, aji e espinafres. Além da mandala semilheiro, da mandala medicinal e do viveiro. É a minha favorita e contempla-la sempre me surpreende. Ao principio relembra-me com o seu exotismo que estou a concretizar um sonho. Depois ensina-me que é necessário confiar: na vida, nas pessoas, nos ciclos e que o mais importante é cuidar. Há um ninho de pássaros feito com barro na árvore do fundo, é habitado por dois passarinhos que cuidam dos ovos que outras espécies deixam em sua casa. Horneritos, lhes chamam.
A nossa história em Arigua é uma história de amor, entrega, assimilação e gratidão. Mas nem por isso é curta, portanto é melhor irmos começando…
19 de Julho 2018
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