29 e 30 de Março, 2018
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A entrada no Chile foi impressionante. Depois duma noite na beira do lago em Chile Chico, eu decidi conduzir a carrinha porque a estrada me parecia boa. Mal sabia eu onde me estava a meter! Despedimo-nos rapidamente deste pueblo fronteiriço, plantado na margem do segundo maior lago da América do Sul, e fizemo-nos à estrada com a intenção de chegar a Puerto Rio Tranquilo ainda pela manhã. Meia dúzia de quilómetros percorridos e começa o malfadado rípio -“É só um pouquinho” - pensei eu. Mas não… foram exactamente 175 quilómetros de terra batida e pedras e, para meu autêntico pânico, ainda por cima entre falésias!
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A estrada é talvez a pior pela qual já passamos, estreita, esburacada e poeirenta. Mas a paisagem… Oh a paisagem! Serpenteamos entre desfiladeiros de pedra voltados para o lago, onde o cinzento da rocha contrastava com o azul cobalto das águas e os verdejantes cumes ponteados de vacas e ovelhas. Cruzamos meia dúzia de aldeias pitorescas com casas de tábuas de madeiras pintadas com cores fortes, velhinhos no alpendre e flores nas cantareiras. Aqui percebe-se que as pessoas trabalham a terra.
Metade do caminho transcorrido e ainda longe de Puerto Rio Tranquilo, paramos para almoçar num embarcadoiro particular, onde a simpatia do Pedro nos abriu os portões. O mesmo lago da manhã, enquadrou o nosso pitéu deglutido à pressa por causa do frio.
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De volta à estrada, o caminho não melhorou, o que não me demoveu da tarefa de conduzir a carrinha e as nossas vidas! Pode ter sido por ter estado a conduzir, e por isso mais atenta à estrada, mas para mim esta foi a mais bonita que já percorremos.
Tarde e a más horas chegamos a Puerto Rio Tranquilo. Mas apesar disso, conseguimos imediatamente comprar os bilhetes para ir ver as Capelas de Mármore, o objectivo desta parada. Hoje sabemos que reservamos, provavelmente, a companhia mais cara, mas viríamos a descobrir que era também a mais segura. Como não tínhamos pesos, nem havia multibanco na vila, nem eles tinham atm, fomos com o dono comprar gasolina para o bote, no valor dos bilhetes. Problema resolvido!
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Na manhã seguinte acordamos a correr. Engolimos o pequeno-almoço e mesmo assim fomos os últimos a chegar, com cinco minutos de atraso. Vestimos os coletes salva-vidas por cima de todas as camadas de roupa que tínhamos vestidas, e foi tempo de zarpar. Apesar do frio e do vento cortante, foi um passeio muito bonito, ainda mais a essa hora despertina, quando as cores estão esbatidas e a neblina da paisagem transformas as cores num quadro onírico. O guia engraçou connosco, e por isso veio todo o tempo à nossa beira, trocando informações por mate.
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As capelas são realmente grandiosas. Pela acção da água e do vento, as gigantescas rochas de mármore foram sendo esculpidas em rendadas formas, que lembra catedrais e capelas, daí o nome. Entramos em algumas grutas, mas sem trocar nas estalactites, para que possam seguir crescendo. E maravilhamo-nos com a textura rugosas deste material que até à data só tínhamos visto polido. Havia mármore para todos os gostos: rosa, caramelo, negro, mais raiado ou mais manchado! A natureza sempre consegue superar as nossas expectativas.
Depois de tanta contemplação e relaxe, não podíamos ir embora tão zen. O caminho de volta foi uma loucura! Navegando contra a maré o barco dava saltos enormes e a cada embate encharcava mais a nossa roupa - “Ainda bem que comprei o impermeável” - pensava eu. Teve tanto de divertido como de assustador e rendeu-nos muitas gargalhadas e uma bela dor de costas.
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O resto do dia foi dedicado a trâmites viageiros: ir à net, tentar lavar roupa, tentar tomar banho, despejar o depósito, tentar despejar a sanita - nem todos bem sucedidos.
Puerto Rio Tranquilo é um desses pitorescos pueblos patogénicos Chilenos. Casas de madeira, estradas de terra, plaza central e pessoas simpáticas. Antes de dormirmos ainda estivemos à conversa com um camionista curioso, que veio meter-se connosco - gente simpática- um presságio dum país espectacular.
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Por fim dormimos, sem termos ideia que o dia seguinte nos reservava uma fugaz viagem à Asia.
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