20 e 21 de Junho, 2018
O Sol brilha lá no alto e o calor tropical já se começa a fazer sentir. Hoje fazemos a emissão a partir do estúdio provisório em Tarija, uma cidade simpática e cenário de situações caricatas em plena avenida principal. A vida Boliviana parece fervilhar naquela que é a maior cidade do sul do país. Catalina Martinez, tens alguma informação que nos possas dar?
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“Sim, Don Pedrito, tenho sim senhor! Encontro-me aqui no posto de controle militar à entrada da cidade. Felizmente tudo correu bem e os nossos viajantes acabaram agora mesmo de arrancar em direcção ao centro. Como tantos outros espalhados pelo país, a este posto estão associados relatos recentes de corrupção. Este é um país famoso devido às tentativas de extorsão de dinheiro por parte da polícia. Mas a “pareja” portuguesa até agora não tem razão de queixa. Todos os oficiais têm sido profissionais e simpáticos. No entanto, o nervosismo está sempre presente nestes momentos. Quando se pára o carro e abre-se o vidro, nunca se sabe quem irá estar do outro lado.”
Claro que sim. São situações delicadas onde não se pode perder a calma. Mas os nossos viajantes são optimistas por natureza! Já eu - permita-me o senhor espectador a arrogância - considero que muitas vezes a má fama surge por dois motivos principais. Em primeiro lugar está a questão da linguagem. Muitos dos relatos que chegam podem ser na verdade fruto de mal entendimentos. É de recordar que uma grande percentagem dos viajantes não fala espanhol e isso pode induzir a erros ou ao abuso das autoridades. Em segundo lugar, a casa que os viajantes trazem às costas não costuma ser tão modesta como a da equipa portuguesa. E, nesse sentido, é como andar na rua com um jóia à vista: estamos sujeitos a que nos queiram roubar.
“Talvez possa ser, Don Pedrito. Neste momento, a equipa parou numa estação de serviço. Como tem já tem vindo a ser habitual, encostaram o carro um pouco mais afastados, longe dos ângulos das câmaras de vigilância. O piloto já se dirigiu à estação com o jerrycan na mão… e está neste preciso momento a falar com a funcionária! Vamos tentar perceber o que vai sair daqui!!”
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Esperemos que tudo corra bem! Na Bolívia assim é. Nem todas as estações tem autorização para abastecer carros estrangeiros e mesmo que não seja o caso, não convém aparecer com o carro na estação, pois o preço que será cobrado não será o local, mas um valor bem mais caro. A estratégia adoptada pela equipa portuguesa foi a de encher o tanque bidão a bidão. E é de bidão na mão que a negociação está a ser feita. A funcionária parece não querer ceder mas… confirma-se! Não só é possível abastecer como os portugueses conseguiram negociar um preço muito próximo do preço local: 45 cent/ litro.
“E depois de quatro viagens entre estação e carrinha, a Patassaura já está de novo com depósito cheio. Mas os tramites não param por aqui, a pareja está em grande e descobriu um local onde pode renovar o seguro automóvel por mais 6 meses a uma módica quantia de 50€ - diga-se de passagem, três vezes mais barato que o anterior. Tudo assinado!”
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É momento então de seguir viagem! De volta à estrada! A etapa não aparenta grandes dificuldades mas nunca se sabe! As informações recolhidas é que há algumas obras… se for como o costume não será só algumas. E confirma-se! Obras por todo o lado e desorganização. As máquinas trabalham e esburacam como se os carros não passassem a poucos metros, pedras soltas rolam até muito perto das áreas de circulação, mas ninguém parece muito preocupado. Parece que tudo vai correr bem! Mas que alívio!
“É um alivio, Don Pedrito. por isso mesmo a equipa decidiu parar numa esplanada e servir-se dum peixe do rio mais próximo. Pelo que leio nas suas caras, o peixe está longe de ser bom, mas a cerveja está fresquinha e com este calor, nada sabe melhor! Numa conversa rápida decidem ir até ao mercado. O país vizinho não é muito caro, mas por prevenção vão encher já a dispensa com artigos ao preço mais baixo que alguma vez já viram em cerca de 13mil quilometro de estrada.”
Está-lhes no sangue! Poupar! O Paraguai já chama! Mas que lindo!! Mesmo já começando a anoitecer decidem andar um pouco mais até ao pueblo antes da fronteira. Mas que má decisão, meus amigos! A estrada é… enfim. Este é um momento triste no nosso directo. Estradas assim não deviam ser permitidas! Tudo começou muito bem com um asfalto quase perfeito, mas de repente este terminou e deu lugar a montes de… pedras! Isso mesmo, escutou bem. A estrada é composta por toneladas de pedrinhas pequenas que formam montes gigantes, há momentos em que simplesmente não é possível evitar que o carro raspe por baixo ao longo de vários metros. Que pena, o dia ia tão bem!
“É verdade, Don Pedrito! E o que também não ajuda são os condutores que vêm em sentido oposto e pura e simplesmente não desligam os máximos! Não se entende! É uma revolta interior!”
Mas há que manter a calma, pois já atingiram o pueblo. Parece que nada há para além dum recinto militar. Decidiram parar e perguntar se a fronteira já estaria fechada. A resposta é…
“Afirmativa!”
São aconselhados a dormir mesmo ali no posto fronteiriço Boliviano. Um guarda enfia a cabeça dentro da janela, inicia uma série de perguntas sem interesse nenhum. Ainda por cima, toca em tudo sem pedir autorização para nada. Mas que melga! Ninguém lhe dá bola e foi à sua vida. É hora de dormir. Amanhã a equipa cruzará ao pais vizinho na sua busca por dias de maior calor, embora já se sinta muito bem a subida de temperatura aqui a 80 quilómetros da linha que separa as duas nações.
Boa noite caro espectador.
Temo que este rally tenha chegado ao fim.
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