Não dedicamos muito tempo à costa do Uruguai. Poderíamos tê-lo feito noutras circunstâncias, principalmente se a curiosidade e a vontade pela Argentina não fossem tantas, se tivéssemos todo o tempo do mundo para viajar e se os preços não fossem ainda mais caros do que em Montevideo.

A costa é turística, não um turismo internacional, mas sim para onde a maioria dos Argentinos vai banhar-se de mar e sol. Acabamos por atracar primeiro em La Paloma. Aqui encontramos a típica cidade à beira-mar. Muito simples, uma estrada principal e muitas esplanada para beber e comer. Encontramos também um parque cheio de coleguinhas europeus com as suas próprias casas rodantes. Diga-se de passagem, que metiam a nossa no bolso. Vimos desde autocarros transformados em autocaravanas, camiões 4x4, autocaravanas correntes e os famosos Land Cruiser de tenda em cima.

Se tivéssemos que engavetar as coisas, La Paloma seria como que uma Comporta, mas claro não esquecendo que estamos no Sul da América. E assim, La Pedrera, a cidade que visitamos depois, uma espécie de Zambujeira do Mar. Menos familiar e mais jovem. Detesto estabelecer comparações, mas foi a forma mais rápida que encontrei de descrever estas duas cidades, que de certeza não marcarão a nossa estadia no Uruguai.

Por fim, partimos para Barra Valizas, uma cidadela mais hippie, com muitas pessoas a venderem artesanato. Por dois dias, fizemo-nos clientes habituais da única panaderia local. Um dos pasteleiros simpatizou connosco. Adorava ler Saramago e já tinha ido a Portugal umas quantas vezes. Pôs-nos a mão no ombro e disse que o que mais lhe encantava em Portugal era a humildade das pessoas. Aceitamos o elogio e recomendamos um par de outros escritores portugueses com os quais ele poderia perder tempo também!

Nessa mesma manhã fomos visitar Cabo Polónio, uma aldeia em cima do mar, onde não há electricidade (é um pouco para a publicidade, porque as pessoas utilizam geradores!) e só se pode chegar nuns autocarros 4x4 ou a pé, como nós fizemos. O trajecto começa atravessando-se um riacho na praia de Valizas. A Levi, que adora nadar, nessa manhã decidiu que não estava para molhar o pêlo, o que nos custou duas passagens de valsa para a lady e para a Catarina levarem as mochilas em segurança. Eu cruzei a nado e encontrei-as do outro lado da margem. Dito assim, parece um acto atlético que merece atenção, mas estamos a falar dum riacho de 3 metros de largura. Desculpem a desilusão!
O percurso inicia-se com um areal de dunas de alguns metros de altura. Sendo fácil imaginar que estamos a atravessar um deserto. Ao fim de alguns quilómetros, já se consegue avistar o Cabo lá ao fundo, e a partir daí ele vai aumentado de tamanho à medida que nos aproximamos. Já junto ao mar, começamos a ver pequenos montes que se estendiam pelo areal. Aquilo que parecia rochas, afinal eram leões marinhos mortos. Adultos e bébés. Não é muito feliz esta imagem. É mais interessante vê-los a nadar desajeitados no turbilhão da rebentação das ondas junto às rochas, como se a Natureza os tivesse colocado no meio ambiente errado. Sempre de forma muito cómica e destrambelhada, de seguida sobem para as rochas e aí ficam a apanhar banhos de sol de barriga para o ar. Por vezes, algum chico esperto toma o lugar do outro e a coisa resolve-se, literalmente, à cabeçada. Em Cabo Polónio é possível observa-los de bem perto. A melhor palavra para definir estes animais é: castiços! A vila em si é bonita e pitoresca. Principalmente na parte superior, onde poucas casas polvilham a escassa zona verde. Cá em baixo, à beira mar, o ordenamento não existe. Restaurantes, bares e hostels parecem ter crescido como cogumelos, numa disposição completamente aleatória.

Acabamos por partir já ao final da tarde. Quando regressamos ao riacho, já as valsas tinham partido. Pusemos as mochilas em cima da cabeça e atravessamos em ponta dos pés. Por esta altura, a Levi já desejava tanto dormir, que se atirou ao riacho sem que ninguém lhe pedisse, e cruzou-o em dez segundos.
As praias são bonitas e o mar frio, como estamos habituados. É engraçado lembrar que afinal é o mesmo oceano em que sempre nos banhamos, mesmo que agora estejamos do outro lado do mundo. Quão grandes são estes universos de água! Quem parece também um oceano, são as estradas. As curvas são raras, pelo que se estendem em linhas rectas de alcatrão, subindo e descendo colinas, fazendo parecer que estamos a navegar em alto mar e em cada cimo duma onda, pudemos ver as que ainda vêm pela frente. E assim fomos, navegando até à Argentina.
1 a 7 de Fevereiro, 2018
Comments