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Encantados no começo!

Foto do escritor: PéterPéter

San Ignácio é uma vila bonita, assim como todas as que fazem parte da região da Chiquitania. A presença arquitectónica espanhola faz-se sentir, principalmente nas praças centrais, que estão sempre muito bem cuidadas e com jardins limpos. Esta região representa o lado mais oriental da Bolívia, onde o clima ainda é algo tropical, sendo possível a plantação de bananas e cacau.



Precisamente por causa do clima quente e húmida, decidimos brindar-nos com um banho na piscina municipal. Ao início tínhamos o espaço só para nós, mas com o passar do dia algumas famílias foram chegando. Foi a oportunidade de tomarmos contacto com um dos muitos hábitos sociais peculiares bolivianos: as esmagadora maioria das pessoas banha-se de roupa. Calças e camisolas, mesmo fazendo calor! Assim como tantos outros comportamentos sociais do país, tivemos alguma dificuldade em compreender o porquê. A conclusão a que chegámos, mas que se calhar é demasiado presa ao nosso ponto de vista e padrão ainda demasiado Europeu, é que eventualmente as pessoas têm algum budismo em mostrar os seus corpos. Homens e mulheres. Lembramo-nos desta hipótese, pois de facto há muita gente gorda, que acreditámos que seja fruto dos maus hábitos correntes de alimentação. O mais impressionante é a quantidade de crianças obesas, como de resto já referimos aqui acontece um pouco por todos os países onde já estivemos.



Enquanto descansávamos da água, conhecemos um grupo de três amigos adolescentes. Cativados pelas minhas tatuagens - e talvez também por a Catarina estar em biquini! - decidiram meter conversa. Eram muito simpáticos e conversadores. Propuseram-nos ir mostrar-nos a gruta de gesso, um dos atrativos naturais da vila. Enfiámo-nos todos no carro e lá fomos na companhia do grupo entusiasta. Um dos rapazes tocava violino num grupo folclórico local e, na despedida, propus-lhe encontramo-nos de novo no dia seguinte para fazermos um vídeo consigo a tocar. Excitado com a ideia, aceitou prontamente. Infelizmente, devido a um erro na troca dos contacto telefónicos nunca mais nos encontramos.



Aproveitei a vontade de fazer algo e despendemos uma manhã a percorrer os vários hotéis da vila. Comigo levava um pequeno portfólio de fotografias da nossa viagem e, apresentando-me como fotografo profissional, propunha um serviço de fotografias aos quartos, café da manhã e demais espaços do hotel por um preço de 10 bolivianos por imagem. Ao fim duma rondada gigante, acabámos por encontrar Don Costaleite, o proprietário do Hotel Don Ignácio, que ficava mesmo de frente para a praça central. Entusiasmado com as fotografias que lhe passei para a mão, aceitou a nossa proposta.



Nessa mesma tarde, pusemos mão ao serviço e com a ajuda da minha maravilhosa assistente Catarina Inês, produzimos 24 imagens entre três quartos, sala de refeições e o jardim do hotel. O que equivalia a 240 Bolivianos. Mesmo sem ver as fotografias finalizadas, Don Costaleite propôs-nos trocar o serviço por uma estadia num dos quartos à nossa escolha. Uma vez que o preço por pernoite era de 350 bolivianos, acabámos por ficar a ganhar. O quarto não era especialmente cómodo ou bonito, mas já necessitávamos com alguma urgência duma ducha calma e tranquila. Assim, aproveitámos para dormir numa cama maior, usar a internet (que também não era assim tão rápida) e ver clássicos do cinema de entretinimento americano dobrados em espanhol. Para além disso, na manhã seguinte ainda tivemos direito a um modesto pequeno almoço de hotel.



Don Costaleite passou as fotografias para o seu computador, elogiando a sua beleza, mas sem grande entusiasmo. Até hoje ficámos com a impressão de que aquelas imagens nunca vão realmente ser usadas para alguma coisa. Desconfiámos que como o senhor simpatizou connosco, a sua ideia era desde o início oferecer-nos uma estadia para descansarmos melhor. Assim sendo, na verdade as fotografias tiveram sim uma finalidade. E depois de acolhidos com mais um gesto de ajuda e compaixão retomámos a estrada com um brilho no coração.



Até Santa Cruz de la Sierra fomos visitando ao de leve os restantes pueblos que nos ficavam pelo caminho. Saímos da região da Chuiqitania com a sensação de que esta entrada na Bolívia não poderia ser mais acolhedora e motivadora.

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