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Adentrando no Brasil : o Philippe e a Raquel, e uma fazenda cultural

Foto do escritor: CatarinaCatarina


Húmido, aguado, desconfortável e sorumbático foi o nosso primeiro dia no Brasil. Na tentativa de esticar ao máximo o tempo que nos restava aos 4 juntos decidimos atravessar todos a fronteira para ir ver o templo Hindu em Foz do Iguaçu. Desde as primeiras horas da manhã que este dia amargurou a nossa boca: um misto de muita vontade de conhecer este magnifico pais e uma tristeza infinita por nos separarmos dos nossos amigos. Assim esta sensação arrastou-se connosco, grudando em todos os membros e todos os órgãos — de olhos e coração remelentos.


A fronteira cidade de leste — Foz de Iguaçu é das mais fáceis do continente, pois, não tem fiscalização. Os dois países têm um acordo e por 24h qualquer pessoa pode atravessar a ponte da amizade sem ter de carimbar passaporte, num fomento das trocas comerciais. Assim não nos preocupamos tanto por não ter papeis para Levi, e de facto ninguém no-los pediu, pois nem revisaram o carro. Desejaram-nos uma boa estadia e uma boa viagem.



O templo foi só uma metáfora para o nosso estado de espírito e o dilúvio que enquadrava o momento tampouco ajudou. Depois de partilharmos a última pratada de massa, despedimo-nos, pesarosos. Eles de volta para o Paraguai e nós para as cataratas.


No dia seguinte, bem cedo e mais animados, marchamos para a entrada das quedas de água, agradecendo por estar um dia nublado e assim a Levi poder ficar no carro. Foi muito bonito, a força da natureza é de facto impressionante! O único senão é a quantidade de gente, e a sua obsessão descontrolada pelas fotografias: impossível anda sem levar com um telemóvel na cabeça ou um bastão de selfie nas costas.




Aproveitamos a tarde para tratar de comprar um chip para ter internet no telemóvel e ligar para o apoio ao cliente do Mmillennium, para tratar de um problema no cartão — ligar até foi fácil, resolver nem tanto.

Reposta a energia e com muitas expectativas para este país-mundo fizemo-nos à estrada em direção a São Paulo, passando por Cascavél.



Vamos muito contentes e perdidos por Cascavél quando um carro nos ladeia na faixa suplente buzinando e gritando “Olá! Aqui também temos sangue português! Querem parar para conversar?”

Prontamente estacionamos para conhecer o Philippe a Raquel — um luso-francês e a sua esposa brasileira. Depois de 5 minutos de conversa que começou pelo reconhecimento da matrícula do carro fomos convidados a ir almoçar na sua casa. Como negar tão simpática e gentil oferta? Seguimo-los até ao seu sítio, nos arredores de Cascavél, um lugar superbonito, com rio, muito espaço e piscina! Claro que com o calor que estava a primeira coisa que fizemos foi dar um mergulho. Conversa puxa conversa e o almoço rapidamente se transformou em lanche e por sua vez em jantar “Hum... agora ficam aqui a dormir, querem?”.

E foi assim que passamos um fim de semana sequestrados no paraíso do Philippe e da Raquel. São pessoas maravilhosas que nos ensinaram muito sobre a bondade, mas também sobre a solidão. Toda a família do Philippe está dividida entre França e Portugal, e a da Raquel, agora, espalhada pelo Brasil. Uma casa que antigamente era cheia de movimento agora está reduzida à presença do casal e das suas duas cachorrinhas: Beija e Flôr. Conversamos, conversamos, conversamos, até a Raquel gastar todas as suas palavras! Acreditamos que levamos um pouco de alegria à sua casa e eles retribuíram com um acolhimento muito amoroso.



Um facto muito engraçado é que tanto a nossa família como a deles ficaram imensamente preocupadas com este acontecimento: a nossa porque não nos deveríamos ter ido meter em casa de pessoas que não conhecemos e a deles porque não deveriam meter pessoas que não conhecem na sua casa! Ahahahah!

Atravessamos o Paraná deslumbrados com as paisagens. Campos de verde estendem-se até ao infinito, pontuados de vez em quando por amarelos, liláses, vermelhos. Adivinhávamos Fazendas de Café atrás dos portões de madeira e, até, dormimos com cheiro a aviário, numa zona conhecida pela sua produção avícola (essa parte não foi tão agradável, foi asqueroso até). Esta zona do Brasil tem uma produção agropecuária muito forte, e fornece praticamente o país inteiro. As estradas asfaltadas e seguras surpreenderam-nos tanto que chegamos a duvidar do que nos contaram sobre um país desorganizado e com falta de infraestruturas (mal nós sabíamos).



Numa noite dormimos numa marina, em Jáu. O Pedro pôs em prática tudo o que aprendeu e treinou durante o Paraguai e conseguiu-nos um lugar seguro, gratuito, na margém do rio Tietê, extremamente agradável para dormirmos! No dia seguinte chegamos a Amparo, batizando a entrada no Brasil com a nossa primeira Skol num boteco, acompanhada de coxinhas de frango e pasteis de vento. Seguimos para a fazenda Santa Esther, onde fomos recebidos pelo senhor Manuel e o seu filho Zé. Santa Esther foi uma grande fazenda de café, hoje em dia é um espaço cultural, que recebe eventos mensalmente e se está a preparar para abrir como restaurante também. O Bruno, o dono, agarrou neste pedaço de terra e, vindo de Berlin, transformou-o num espaço dinâmico, moderno e em voga! A apenas duas horas de São Paulo torna-se a escapada perfeita para a elite cultural.



O espaço em si é incrível, tem uma casa senhorial enorme, onde vive o Bruno e a Teresa, sua filha, uma piscina com a respetiva zona de churrasco e bar, a casa antiga onde os escravos dormiam, agora espaço comunitário e cozinha, uma casinha com 3 quartos para turismo, a casa do senhor Manuel e seu filho e a da Eliane (a cozinheira) e sua mãe e, por fim, a igreja. É, portanto muito terreno!

O Bruno, infelizmente estava numa altura atribulada da sua vida e não teve muito tempo para estar connosco, assim compartilhamos os nossos dias essencialmente com os caseiros e com outro casal de voluntários, a Denis e o Marther, da Turquia!



Adoramos o espaço e a companhia, as tarefas é que nos deixavam insatisfeitos. Estivemos basicamente a cuidar de uma hortinha, limpar o terreno, adubar, colocar cobertura, essas coisas, e a varrer folhas! No último fim de semana fizemos também o pequeno-almoço para uma família que estava hospedada na casa de turismo, foi bem divertido! Também tivemos muito tempo para usufruir da piscina, ler, fazer macramé, utilizar a internet que era maravilhosamente rápida e eu descobri um podcast de desenvolvimento pessoal de um casal do porto, o Pedro e a Mia, no qual estou viciada desde aí: http://podcastivm.com . O tempo também jogou a nosso favor, estiveram uns dias bem ensolarados, que convidavam ao ioga matinal e a banhos de sol.

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