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A natureza de Pipa

Foto do escritor: CatarinaCatarina


De Tambaba continuamos a subir até, realmente, Natal. Como já aprendemos as grandes cidades são para evitar, por isso paramos em Pipa, uma pequena vila muuuuuuito turística. Apesar de seus hotéis, condomínios e restaurantes europeizados Pipa mantém um certo charme e o seu centro é imensamente animado - assim como Alfubeira no Verão, diz o Pedro. O planeamento urbanístico parece inspirado num quadro cubista, com suas ruas estreitas de pedra indo nas direções e nos formatos mais insanos. Sendo turística é obviamente mais cara, por isso decidimos economizar e aproveitar a vilazinha do ponto de vista da rua. Assim, na primeira noite, fizemos um rally das tascas, pelos mini-supermercados! Em cada lojinha parávamos para dividir uma latinha, sentados no passeio, observando as pessoas que passavam na calçada e usufruindo do gostoso calor nocturno. 90% dos pés que cruzavam nosso olhar estavam protegidos por simples havaianas, e os corpos, muitos em biquinis, desfilavam os melhores modelos de beach wear, que por estas bandas significa uma túnica aberta ou um vestido tricotada em cores cremes e motivos florais. De entre as intermináveis ofertas de massa e pizza, cujo menu é gritado por um empregado no meio da rua: “Boa noitxi casau!” - costuma ser o mote de aproximação - apenas um restaurante chamou a nossa atenção. “O tal do escondidinho” que tinha como tema o Cangaço, movimento representado por Lampião e Maria Bonita.



Em suas paredes exibia a historia controversa destes e seu grupo, uma espécie de Robin dos Bosques do Brasil, mas bem mais violento. o grupo dos cangaceiros lutavam pela libertação da região do sertão das forças militares e respectiva corrupção. Tinham como padrinho o padre Cicero, que ainda hoje é venerado (ver o vido do Vicent Moon aqui). Claro que sendo esta história passada no território Brasileiro o desfecho não podia ser inspirador: acabaram por ser apanhado pelos militares e decapitados, suas cabeças foram até expostas durante 30 anos num museu de Salvador. O nosso jantar, por seu lado, tem um final muito mais feliz: provamos o famoso “escondidinho” que consiste em camarão (ou carne) “tapado” por um puré de macaxeira (mandioca) e natas gratinadas - uma verdadeira delicia! De segundo pedimos um bafo de bode - bicho cuja carne é cozida muito lentamente numa panela de barro, acompanhado com verduras, até estar terno e delicioso.



De todas as características de Pipa, a que mais nos assombrou foi a vida animal: vimos golfinhos e tartarugas na praia, peixes boi da falésia e claro, um montão de pássaros coloridos e ruidosos. Passamos uns dias de praia incríveis, com sol e calor mas não em demasia e temos para nós que devem ter sido os dias mais felizes da Levi, pois sempre encontrava alguém que lhe atirasse um pauzinho, mesmo que ela com a sua brusquidão arruinasse a produção fotográfica na orla do mar.

Com a aproximação da passagem de ano o ambiente foi ficando demasiado enérgico: às dez da noite já carros cheios de pessoas não tão jovens completamente embriagadas cruzavam nossa viatura-casa estacionada na berma da estrada a velocidades não muito simpáticas. A nossa desconfiança foi crescendo e por fim foi corroborada por duas amigas que fizemos entretanto: carro na beira de estrada na virada de ano? Nem pensar!!! Conhecemos a Bety e a Nora no bar do Pirata, um espaço cujo nome já indica seu tema, à beira-mar plantado. O mais engraçado é que fomos literalmente obrigados a parar pelo capitão 7 Mares , que ofereceu o espaço em frente ao bar para estacionarmos e nos deixou à vontade para usar a casa de banho, mesmo depois de fecharem (: Tímidos, acabamos por ir tomar uma cerveja pirata, tendo um dos sete mares como plano de fundo.



Já estávamos a suar do buço com a ideia de passar a virada em Pipa, numa qualquer festa eletrónica ou encafuarmo-nos nos nossos 5m2 de casa, quando a salvação se nos apresentou em formato do anuncio de facebook: iria haver um retiro no Ceará, na eco-aldeia Flecha da Mata (que seguimos pois ponderávamos fazer lá voluntariado). Foi imediato! Fizemos contas à vida, levantamos dinheiro, passamos num supermercado, deixamos Pipa e sua confusão pelas costas e num piscar de olhos chegamos a Canoa Quebrada (ou seja, 480 km e um dia de estrada depois, claro.)

Não podia ter sido uma decisão mais acertada! Mas essa é história para outro post (:

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