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A Aldeia iv - Foi um filme!

Foto do escritor: CatarinaCatarina


A uma semana de ir embora, eu o Pedro e a Connie ponderávamos fazer uma cerimonia de Ayuasca com um vizinho da Aldeia. Em Portugal já tínhamos ouvido falar por alto destas cerimonias e assistido a esses documentários - agora sabemos que totalmente fantasiosos. Só no Brasil, e mais especificamente na Aldeia é que o tema se desmistificou, para nós. A ayuasca não é alucinógena, é simplesmente um espansor de consciência, tal como o café ou o rapé. Feita com o chá de duas plantas, o cipó e a xx é utilizada ancestralmente em rituais de conexão com a natureza e com o divino em si mesmo. A experiência de todos os membros da Aldeia na participação destes trabalhos tranquilizou-nos e inspirou-nos a participar num. A experiência é para cada pessoa e cada situação diferente, por isso não há como prevêr o que vai acontecer. A ayuasca pode mostrar-te tanto a luz quanto a sombra que habita em ti. E dizem assim: “aceita, que foi menos”. No final apesar da nossa expectativa nem rolou, por varias razões diferentes. Mas gostamos muito de conversar com o Alexis, o homem-medicina que guia os trabalhos, transmitiu-nos muita confiança e tranquilidade.



Esta ultima semana foi tempo de finalizar a casa da vitória e do Gabriel. Os únicos baianos da comunidade, têm 22 anos e são um casal muito engraçado! Estão juntos desde os 15 anos, então conhecem-se tão bem um ao outro quanto a si próprios. A vi, muito despachada e dona de si, põe toda a gente a toque de caixa. Não há quem não tenha uma pontinha de receio dela. mesmo com a sua barriga de 32 semanas mantem-se vigorosa e atenta. o gabriel, dengoso, é quem toma conta do grupo, repara se alguém precisa de algo, sempre solicito, bem-disposto e de risada fácil no canto da boca, é o preferido das crianças.

Com todos os voluntários a pintar, lixr, concertar, restaurar a casa deles conseguiram terminar tudo a tempo! Quando viemos embora só faltava por a agua a funcionar.

Os únicos que foram dispensados desta função fomos eu e o Pedro pois propusemos-nos fazer um filme com as crianças (: Foi muito divertido, mas houve alturas em que prefiramos estar a pintar, ahahaha!

Seguimos o mesmo modelo de Pailimay, embora desta vez mais conscientes dos tempos e limites das crianças. primeiro o Pedro explicou como se faz um filme, depois construímos a história juntos, fizemos os figurinos e os cenários com os mais velhos e, pr fim, lá chegou o dia das filmagens. Uma das nossas pequenas estrelas deu uma de vedeta e após algumas birras quase estivemos para cancelar o filme! No final acabou por dar certo e eles adoraram o resultado. Nós gostamos muito, mas temos de reflectir como poderemos tornar o processo mais divertido e interactivo para as crianças (principalmente abaixo dos 8 anos).



Esta semana aproximou-nos da Naty e fez-nos pensar muito no paradigma de ser uma adolescente numa comunidade: se por um lado é incrível que tenha acesso a coisas tão incomuns para a sua idade, como reuniões de comunidade, estreitos laços com adultos, sentido de responsabilidade nas tarefas domesticas, por outro sabemos que lhe fazem muita falta amigos da mesma idade e que a educação entre pares é realmente fundamental nesta altura. Não chegamos a nenhuma conclusão, mas compreender as suas necessidades fez-nos admirar muito a sua postura, que apesar de um pouco rebelde é muito doce e madura.

O ultimo fim-de-semana foi marcado pela estreia do filme e pela festa de despedida “Pizza Party!” O Mateo, italiano, ficou responsável pela massa e entre todos fomos montando e colocando as pizzas no forno a lenha e fazendo caipirinhas (:



O Mateo e a Diana foram um casal com quem nos identificamos muito. Ele, grandalhão, atabalhoado, com imensa ternura no coração e sempre pronto para brincar com os miúdos. Nunca deixava passar uma oportunidade para dizer o que achava ser correcto, e assim abstinha-se de comentários de corredor. A Diana doce, cama e muito criativa, com uma energia apaziguadora e de resolução. Tivemos pena de só nos cruzarmos estes dias.

Com muita nostalgia o dia de ir embora chegou. Abraçamos um por um, até ao bebé Bento (que nessa altura só se chamava bebé), com a certeza de que arranjamos um espaço permanente no coração para todos.

Esta foi uma experiência extremamente importante para nós desmistificarmos a ideia da vida em comunidade. Sentimos os problemas correntes, as dificuldades d organização, o trabalho que apenas parece aumentar e por muito que se faça há o dobro por fazer. Mas também o amor que une e protege, a entre-ajuda e a segurança de um sonho partilhado.

As comunidade são feitas, apenas, de pessoas unidas por uma intenção em comum.

Qual intenção?



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