
Segunda-feira chegou a nova leva de voluntários: Mateu e Diana, de Bolonha e Nova York, Marina de Paris, o Pau deBarcelona e Giuliano de Neuquen.
Com as crianças tentem um novo modelo de trabalho, começávamos na mesma com a nossa roda e as sugestões de cada um, mas desta vez comecei a direcionar mais as actividades. Assim, das que tinha separado durante o fim de semana, focamo-nos nos sentimentos e emoções, uma área que senti estar pouco desenvolvida neles. Infelizmente acabamos por fazer todas as actividades que deviam durar uma manhã inteira, em 10 minutos apenas! Ahahahahah. Na cozinha de produção estive a fazer manteiga de amendoim: torrar, descascar e moer.
Terça-feira foi o aniversário do laurence, por isso estive com as crianças a fazer trufas de batateiros-doce e chocolate. Claro que conseguimos sujar a cozinha inteirinha, mas eles estavam tão divertidos e empenhados que valeu a pena. À noite houve uma pequena festa com dinheiro a bolo cegando feito com a Liz: base de cacau, bolo de fofinho e sorvete de caju. Uma perdição, ainda mais porque não se utiliza açúcar na cozinha comunitária, assim sempre que aparece um focinho é uma loucura para adultos e crianças.
Quarta-feira acordamos com a noticia de que a Luna tinha entrado em trabalho de parto! Eles escolheram ter um parto completamente natural, apenas com a ajuda da Liz. Neste casos nunca se sabe quanto tempo o trabalho vai demorar - acabou por ser até às 2h da manhã! Eu aproveitei o tema para fazer uma prenda para o bebé novo com as crianças. Fomos à floresta colher as suas plantas, paus, folhas e cascas favoritas para depois montar num desequilibrado mobile - ficaram muito orgulhosos do seu feito, e a Maia aproveitou uma hora da tarde em que subiu com a mãe para casa da Luna já para levar a prendinha. Fomos todos dormir fazendo figas para que tudo corresse bem.
Quinta-feira de madrugada acordamos com a Leticia batendo-nos na porta do quarto, pedindo para substituirmos o George, que estava escalado para o café da manhã, pois ele tinha de levar a Luna ao hospital! Com um peso no peito despachado-nos para a cozinha, mas ninguém se conseguia concentrar devidamente, até as crianças perceberam a energia estática do ambiente. Passamos a manhã com o coração na boca, esperando boas notícias. Quando estas finalmente chegaram foram as mais tristes possíveis: o bebé não tinha sobrevivido. O parto tinha corrido bem, nasceu uma menina que chorou e até mamou. Eles aproveitaram que ela adormeceu para descansarem também e quando voltaram a acordar, por volta das cinco da manhã ela não estava a respirar. Tentaram chegar ao hospital o mais rapidamente possível mas ela não resistiu.

A mãe da Luna e seu companheiro chegaram nesse dia, já estava combinado virem passar uns tempo para ajudar com o bebé. Do que compreendemos, numa primeira instancia a Luna e o thiago até estavam a lidar relativamente bem com o sucedido, acreditando que o espirito da Cristal continuava na Terra, só teria de esperar por um novo corpo. No entanto, com o passar dos dias, penso que pioraram. A Marcela, mãe da Luna, dizia que eles estavam em choque e em família decidiram ir para serra Grande, saindo um pouco da Aldeia. Não consigo imaginar como se ultrapassa um acontecimento assim.
Sem tempo de respirar e assimilar o acontecido, sexta-feira de lua cheia amanheceu com a Lêticia em trabalho de parto. Apanhados de surpresa ninguém sabia bem como reagir. A comunidade organizou-se para prestar o máximo de auxilio - já estava planeado há meses - as meninas fizeram um almoço nutritivo para a Leticia e o George, os rapazes recolheram lenha, acenderam a fogueira e foram esquentando águas-más para a piscina de parto. Acontece que este bebé estava com pressa de mundo e nem deu tempo à mãe de entrar na piscina. eram seis e dez da tarde, voltava eu da cachoeira com as crianças quando escutamos um grito brutal seguido de um chorinho. Espantados trocamos olhares- seria mesmo o neném? E era realmente, quando chegamos lá na área comunitária da Aldeia contaram-nos: nasceu um menino! Seu nome é Bento, mas só viria a ser apelidado 15 dias depois, já nós não estávamos na Aldeia.
E foi assim que em dois dias deparamos-nos com dois cenários absolutamente opostos, e ainda hoje não sabemos como os interpretar. Verdade é que foi-nos apresentada uma opção de parto que nós nem conhecíamos nem tínhamos refletido nela sequer: o parto natural. E se por um lado é uma opção absolutamente assustadora, por outro também é extremamente bonita. Com algumas luzes, muita bibliografia para estudar e um caminho mais aberto na nossa vida seguimos, nesta trilha dos encantamentos.

Comments